COMUNIDADE INDÍGENA MAIA - OS IUCATECAS

Depois da passagem por Cobá, já de volta à estrada, na travessia da floresta encantada, a caminho de um povo que não parecia deste tempo, mas do outro, lá longe, muito longe, no passado... Ainda assim, eram os maias da modernidade.

 

 

O trajecto de terra batida não criava dificuldade, nem medo, só curiosidade. Estávamos por nossa conta e risco (sim, o risco é próprio deste mundo).

No percurso de carro, o guia ia proferindo palavras maias, para que, pelo menos, aprendêssemos a cumprimentar uma comunidade disposta a receber estranhos intrusos.
Conforme sabia, registei tudo no bloco de notas. O insucesso na escrita não haveria de prejudicar a oralidade.

A língua maia ainda hoje é falada por dois milhões e meio de pessoas, apresentando 24 variações linguísticas, em função do local e influências externas. No entanto, todas essas variantes da língua maia têm em comum a proveniência protomaia, entidade que emergiu antes de 2000 a.C.

Mesmo no tempo do Império Maia, era frequente os habitantes de aldeias distantes não se compreenderem entre si.

 

[- "Biix a beel?" (Como está?) - Cumprimento dos Iucatecas, em Quintana Roo]

Estima-se que os Iucatecas, descendentes diretos dos povos pré-hispânicos, que se encontram distribuídos pela península do lucatão, sejam cerca de 350 000.

Como comprova a simpática senhora da fotografia, a estatura os Iucatecas é baixa. Em média, as mulheres apresentam 1,42 metros de altura e os homens cerca de 1,55 metros. O rosto largo e o nariz comprido e aquilino são outras das suas características físicas.

 

[Casa dos Noivos]

A casa dos noivos, com uma só divisão interior, tal como todas as outras casas da comunidade, cuja construção se mantém semelhante às habitações antigas, foi-me apresentada com sendo uma casa ainda em construção, para receber um jovem casal, que estava para casar.

Mandam as regras deste povo que a casa dos recém-casados seja construída perto das dos pais. 

As casas dos Iucatecas são feitas de folhas de palmeira e de adobe, e construídas nas proximidades de um cenote, pela necessidade de água, para consumo e higiene pessoal.

Nesta comunidade, não há ruas, nem pátios, só agrupamento de cabanas, hortas e campos de cultivo.

Para esta comunidade, a casa não tem a mesma importância que os ocidentais lhe atribuem, até porque a grande maioria das suas atividades diárias decorrem no exterior.

[Preparação de Tortillas de Milho]

 

- "Malo kin!" (Bom dia!)

No momento da minha entrada na primeira das cerca de 25 cabanas que dispunha a comunidade, uma anciã preparava tortillas com pasta de milho em forma redonda, como bolachas grandes, que, depois de prontas, seriam cozidas no comal.

Não as provei, mas, pelo aspeto, deveriam ser deliciosas e picantes. :-)

 

O guia, ainda que vivesse afastado da comunidade, tendo recebido uma educação mexicana, não escondia as características físicas deste povo - a harmoniosa e linda iucateca que confecionava as tortillas era sua avó.

 

Como no meu bloco de notas não constava como indagar alguém sobre a funcionalidade dos utensílios, fiquei sem saber o que fazia uma das simpáticas iucatecas, no seu compasso tímido e calmo. Mas creio que moía milho, que serviria para a confeção de tortillas.

 

Dentro da habitação, despertou-me a atenção um altar cristão. Era visivelmente clara a influência da colonização espanhola. Os Iucatecas estavam evangelizados.

Contudo, a roda do calendário maia ainda orienta a vida agrícola deste povo.

Para a sua alimentação e cuidados, nestas terras, produz-se milho, feijão, batata-doce, mandioca, abóbora, melancia, pimento, tomate, cebolas e árvores de fruto, como a bananeira, goiabeira, anoneira, laranjeira, entre outras. Na sua horta, havia ainda uma panóplia de plantas aromáticas e medicinais tão necessárias, para curar possíveis males da sua gente, que não parecia conhecer hospitais.

Além da caça ao porco selvagem, cervídeos, tatus e aos grandes roedores tepez-cuintle, também criam animais, como as abelhas, para extração de mel e cera, galinhas, porcos, perus, e, em alguns locais, gado. 

Para a produção artesanal e cultural, cultivavam o sisal (henequem) e o tabaco. 

 

[Formas de Cultivo de Plantas Aromáticas]

Os Iucatecas cultivam as plantas aromáticas em caixas cheias de terra ou em troncos escavados, porque a camada do solo é muito fina para esse efeito.

 

 

 

[Família Iucateca]

Numa outra habitação, que vendia artesanato feito pela comunidade local, a receção foi calorosa e encantatória.

O som do búzio, maraca, tunkul, tambor e flauta impregnado com o agradável cheiro a incenso, deixaram-me magnetizada por algum tempo.

 

[Fogão a Lenha, Balde e Comal Iucatecas]

Por fim, avisto uma espécie de panela ao lume, mas nem sinal do manjar, era somente água fervida recolhida no cenote. Haveria então que tratar de saciar a fome fora da comunidade iucateca. E assim fui incitada ao almoço.

- "Yum botic. Tu heel k'iin!" (Obrigada. Até logo!) :-)

A simplicidade desta comunidade deixou-me em reflexão para a vida...

Não precisamos de muito para cumprir a caminhada que nos foi permitida.

Fonte Escrita de Apoio:

"Maias - As Cidades da Floresta" - Coleção As Grandes Civilizações, por Selecções do Reader`s Digest, 2005.