Na Rota da Civilização Maia [México]: CENOTES

Na península do Iucatão, no México, é frequente a água penetrar, escavar e percorrer o subsolo por cavernas e canais, dado tratar-se de uma zona de terras baixas e de rocha calcária.
Ao longo dos anos, o calcário em contacto com a água vai sofrendo a erosão natural e provocada pela reação química da presença de dióxido de carbono na água. Assim, o teto das cavernas calcárias acaba por cair, revelando grandes e profundos poços naturais a céu aberto, geralmente em forma cilíndrica, denominados cenotes (palavra de origem maia "dz`onot", que significa debaixo de terra).

Posso ainda acrescentar que se trata de um fenómeno natural idêntico ao ocorrido no interior das grutas de Mira de Aire ou de Santo António, em Portugal, embora nestas haja pouca acumulação de água e a abertura de acesso ao exterior seja mínima - uma espécie de buraco, como o descrito em "Alice no Pais das Maravilhas" de Lewis Carroll.

[Gruta de Bolonchén]
[Estado do Campeche, na Península do Iucatão]

No tempo do Império Maia, os sítios onde havia cenotes eram locais de maior concentração populacional, pelo fácil acesso a água pura - facto que ainda hoje ocorre com as comunidades indígenas do Iucatão. Nesse tempo, os cenotes eram também locais de rito, usados para sacrifícios, oferendas e peregrinação.

Cenote Ik-Kil

O Cenote Ik-Kil, em forma praticamente circular de cerca de 60 metros de diâmetro, apresenta uma descida de 90 degraus escavados na rocha e uma distância do nível do solo para a água de 25 metros. A água deste poço é límpida, gélida e muito profunda.

Neste poço natural, ainda que convidativo ao mergulho, não ousei tal proeza. A profundidade da água e a sua enorme distância em relação ao solo deixaram-me inquieta, porque aqui transformara-me num minúsculo ser diante da grandiosa mãe natureza.

Gran Cenote

O Gran Cenote, com um aspecto bastante distinto do cenote Ik-Kil, mas igualmente deslumbrante, apresenta uma distância do nível do solo para a água bastante menor, sendo constituído por grutas e rios subterrâneos com mais de 300 quilómetros de extensão, que se foram formando ao logo de muitos anos.
A água é igualmente cristalina e fria, podendo ser mergulhada, para apreciar a beleza submersa das estalactites e estalagmites.

No Gran Cenote não mergulhei, mas nadei bastante, para deixar o corpo sentir o que os meus olhos viam. E o corpo encantou-se com tamanha visão.